Aumento salário mínimo terá maior impacto na restauração, alojamento, transportes, limpeza, segurança e agricultura. Empresários ouvidos pelo ECO defendem aumento, mas faseado e a par com a economia.
Governo de António Costa vai sentar-se à mesa, esta quarta-feira, com os parceiros sociais para debater os aumentos futuros do salário mínimo nacional (SMN). O primeiro-ministro defendeu a subida do SMN para 750 euros até 2023, mas há setores que vão ser claramente mais afetados do que outros.
Os transportes, limpezas e segurança (92,1%), a agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (89,8%) e o alojamento, restauração e similares (87,4%) são os setores onde o aumento do salário mínimo terá um maior impacto, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
O ECO falou com empresários destes setores e com o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) para perceber como encaram o impacto desta medida e quais as expectativas.
A maioria defende o aumento salarial articulado com o crescimento da economia. “O crescimento dos salários tem de ser comportável para as empresas e tem de estar articulado com o crescimento da economia. Só assim se garante uma política salarial de futuro e sustentável”, destaca ao ECO, Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
António Granja, diretor geral do restaurante Capa Negra que conta com 70 colaboradores, refere que o impacto será geral em todos os setores a nível nacional e considera que “não é o salário mínimo que tem impacto é a consequência que isso cria nos outros escalões”. Por arrasto “vamos ter que corrigir salarialmente os nossos colaboradores que não recebem salário mínimo, mas que estão na franja acima ou a seguir. É um efeito bola de neve; se eu aumentar os escalões mais baixos tenho de aumentar os do meio e assim sucessivamente”.
O crescimento dos salários tem de ser comportável para as empresas e tem de estar articulado com o crescimento da economia. Só assim se garante uma política salarial de futuro e sustentável.
No que respeita ao setor transitário e de transporte os impactos serão diferentes. Para Miguel Silva, managing partner da Olicargo, operadora logística sediada na Trofa, que conta com 180 colaboradores só a nível nacional, na vertente transitária (logística) essa medida pouco impacto terá. Explica que “os vencimentos suportados são todos eles acima da média do salário mínimo e que a atividade transitaria é muito valorizada para o setor dos transportes”.
Está consciente que as empresas não têm capacidade de suportar estes aumentos e os mesmos “deverão passar para os clientes”, destaca o managing partner da Olicargo.
O aumento salarial é “100% vantajoso e sou completamente a favor. Com esta subida as pessoas têm mais vontade de trabalhar, são mais produtivas, não faltam tanto, não recorrem a tantas baixas, porque andam contentes e satisfeitas.
Célia Moura, proprietária da empresa de limpezas Celimpa, considera que este aumento salarial é “100% vantajoso”. “Com esta subida as pessoas têm mais vontade de trabalhar, são mais produtivas, não faltam tanto, não recorrem a tantas baixas, porque andam contentes e satisfeitas. Sou 100% a favor deste aumento”. A empresa conta com quatro colaboradores, incluindo a proprietária, Célia Moura, que acrescenta ainda que “os colaboradores deviam ganhar mais e ter mais regalias. Porque para além de ser a proprietária, sou mãe e funcionária e tenho consciência que este trabalho não é fácil”, conclui.
Por outro lado o setor da agricultura surge com uma posição mais comedida. “A CAP tem defendido um salário mínimo nacional na ordem dos 700 euros até 2023, tendo em conta as perspetivas de abrandamento económico, face à conjuntura internacional, onde questões como o Brexit poderão, pelo menos num horizonte próximo, ter forte influência”, explica o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal.
Eduardo Oliveira e Sousa considera ainda que os valores do SMN não devem ser definidos por imposição governamental e que devem resultar de um diálogo social do Governo com os parceiros sociais. Caso contrário “a capacidade negocial fica prejudicada, desvalorizando-se o esforço que vem sendo feito pelas partes no encontro de soluções para a relação laboral do setor”.
Aumentos anuais serão mais fáceis para as empresas
O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal defende a fixação de um valor até ao final da legislatura. Na sua ótica este sistema permite uma gestão programada da massa salarial e promove uma certa estabilidade para além da gestão de curto prazo.
A nível da restauração Portugal não está preparado para os salários que paga. Nós não conseguimos repercutir os custos da empresa nos produtos que vendemos. A margem de negócio deste setor é baixa.
António Granja, diretor geral do restaurante Capa Negra, considera que este aumento deve ser faseado. Miguel Silva, managing partner da Olicargo, corrobora a ideia e considera que o ideal “seriam aumentos anuais”, pois está convencido que “o setor não aguenta um aumento tão grande de um ano para o outro”.
A proprietária da empresa de limpeza Celimpa, Célia Moura, tem uma perspetiva completamente oposta à de António Granja e Miguel Silva. Considera que o aumento salarial deve ser imediato. Acrescenta que “750 euros é um salário baixo face às despesas do dia-a-dia”. Já o diretor geral do restaurante Capa Negra considera que a proposta de António Costa é bastante generosa.
Publicado em: https://eco.sapo.pt/2019/11/06/e-nestes-setores-que-se-paga-mais-o-salario-minimo-estao-preparados/