Guia eletrónica para lixo sobe custos para empresas de limpeza com efeito no ambiente

As empresas de limpeza alertam que as novas guias eletrónicas de transporte de resíduos aumentam os seus custos e podem levar clientes a encaminharem lixo específico para o circuito urbano, sem o necessário tratamento.

Os riscos para a sustentabilidade económica das seis principais empresas que trabalham nesta área – com faturação de cerca de 72 milhões de euros – e para o ambiente e saúde pública estão na base de um pedido da Associação Portuguesa de Facility Services (APFS) à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para que isente o transporte de resíduos de higiene feminina das guias eletrónicas.

“A implementação do sistema de e-GAR terá impactos muito negativos em dois aspetos essenciais: custos de contexto e proteção do ambiente e saúde pública”, resume a associação, numa carta enviada à APA, a que a Lusa teve acesso.

As Guias Eletrónicas de Acompanhamento de Resíduos (e-GAR), obrigatórias a partir de janeiro, já estão em período experimental e são usada por 500 entidades.

Em declarações à agência Lusa, na sexta-feira, o presidente da APA, Nuno Lacasta, defendeu as vantagens das guias, realçando que permitem às empresas pouparem até 9,8 mil milhões de euros, simplificando o seu trabalho e trazendo mais transparência ao processo.

Um estudo realizado pela Universidade Nova de Lisboa concluiu que o projeto e-GAR permite uma poupança anual para as empresas em custos administrativos até 9,8 mil milhões de euros, referiu Nuno Lacasta, acrescentando que, antes das guias eletrónicas, as empresas gestoras de resíduos tinham um custo por cada guia de transporte de 4,56 euros e de preenchimento por cada Mapa Integrado de Registo de Resíduos (MIRR) de 248,88 euros.

Após a aplicação das guias eletrónicas, o custo total para a empresa, por e-GAR, é de 0,18 euros, segundo o estudo.

Na carta enviada à APA, em outubro, que cita também uma reunião realizada em 31 de julho, a APFS “volta ao assunto” com os argumentos que “sustentam a possibilidade de o transporte de resíduos de higiene feminina estar isento de e-GAR mediante autorização” da Agência, em situação de “caráter excecional e de manifesto interesse público”.

Estimando que os custos relacionados com a adoção das e-GAR “podem ascender a várias dezenas de milhar de euros no primeiro ano que se manterão, em parte, como custos fixos nos anos seguintes”, a associação salienta que este acréscimo “terá de ser refletido no cliente, o que poderá levar muitos [deles] a desistir deste tipo de serviços”.

Explica também que este serviço se refere à recolha de quantidades de resíduos baixas já que um contentor de resíduos de higiene feminina tem um peso médio de 290 gramas e, ainda que sejam levados vários contentores de uma determina instalação, como cafés, restaurantes ou lojas, “esta nunca acarretará quantidades superiores a alguns quilogramas”.

As empresas de ‘facility services’ conferem um tratamento a este tipo de lixo, através de produtos desodorizantes e antimicrobianos.

Se os clientes optarem por “armazenar os resíduos nas instalações sanitárias e encaminhá-los para o circuito urbano sem o respetivo tratamento” está em causa a garantia de “condições de desinfeção e consequente salubridade dos espaços públicos onde se encontram instalados, assim como dos locais de eliminação”, defende a APFS.

 Publicado em: https://www.dn.pt/lusa/interior/guia-eletronica-para-lixo-sobe-custos-para-empresas-de-limpeza-com-efeito-no-ambiente-8936161.html