"Penso que não vai haver negociação nenhuma" sobre salário mínimo

João Vieira Lopes esteve na Manhã da Renascença para falar das perspectivas para as negociações sobre o aumento do salário mínimo nacional, que começam na sexta-feira.
A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) admite que possa falhar o acordo entre os parceiros sociais sobre o aumento do salário mínimo. “Amanhã não vai haver negociação nenhuma”, afirma o presidente do organismo.

João Vieira Lopes alega que o Governo não leva em conta os parceiros sociais nem o tecido empresarial e acusa-o de fazer apenas jogos políticos.

“O Governo tem uma posição de 580 euros, porque tem um acordo político nesse sentido e nós somos claramente contra estas decisões serem tomadas em termos político-administrativos”, contesta.

“O Orçamento do Estado despreza completamente o tecido empresarial – é, de facto, nesse aspecto, bastante negativo – e se se mantiver como está, não faz sentido discutirmos qualquer acordo. Não aceitamos nem deixamos de aceitar. O Governo que tome as decisões políticas que entender e assuma as responsabilidades. Porque isso é um jogo político”, afirma ainda João Vieira Lopes na Renascença, acusando o Governo de não ter cumprido o acordo alcançado no ano passado.

Na sexta-feira, em cima da mesa vão estar as propostas do Governo (de 580 euros, o que representa um aumento de 23 euros) e dos sindicatos: a UGT defende um salário mínimo de 585 euros e a CGTP insiste numa subida para os 600 euros, como disse na Renascença o secretário-geral, Arménio Carlos.

Da parte dos patrões, o presidente da CCP diz que não avança com valores. “Isto não é nenhum leilão. Nós avançamos com metodologia” – ou seja, “achamos que se deve fazer conforme se acordou há vários anos e entrar em conta com o índice da inflação, com o da produtividade e com índice do crescimento da economia”.

“Se esses valores derem 1% ou 1,5%, achamos que poderemos ir até acima disso”, admite João Vieira Lopes. “Nós achamos que [o salário mínimo] deve ser aumentado, mas acompanhando o ritmo de crescimento da economia”, acrescenta.

João Vieira Lopes explica que “as empresas têm capacidade de aumentar a sua massa salarial, de um ano para o outro, em 2%, 2,5%, 1,5%. Se sistematicamente forçam determinados segmentos a crescer mais do que isso, é evidente que a empresa não altera a massa salarial”.

“Isso acaba por ser um desincentivo até aos incrementos salariais das pessoas mais qualificadas”, acrescenta, voltando a criticar a postura do Governo.

“Este Orçamento do Estado é como se as empresas não existissem. Portanto, globalmente, não vejo como é que pode haver algum acordo se há decisões pré-definidas. Na nossa opinião, o que há aqui, neste momento, é um conjunto de decisões políticas”, critica.

Ainda do lado dos patrões, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, já afirmou estar indisponível para aceitar a proposta de 600 euros para o salário mínimo nacional em 2018 e critica a “luta partidária” do PCP com o Bloco de Esquerda.

Na quarta-feira à noite, o Presidente da República pediu sensatez na concertação social e avisou que não se pode deitar a perder o equilíbrio financeiro conseguido nos últimos anos.

No discurso do encerramento do seminário “Portugal Exportador 2017”, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa insistiu nas necessidade de “sensatez orçamental”, incluindo na concertação social, para que não se troque “a ilusão mirífica de um instante por aquilo que é verdadeiramente consistente, que é estruturante, que é duradouro”.

Seca provoca quebra de 40% no comércio

Há empresas do sector têxtil e do calçado que já tiveram quebras de cerca de 40% por causa do tempo quente e seco que se faz sentir.

“O que acontece é que esse tipo de mercados funciona com base nas chamadas estações do ano e neste momento as pessoas que têm colecções de Inverno e apresentação de produtos novos estão com problemas bastante sérios”, afirma o presidente da CCP.

Segundo João Vieira Lopes, só as grandes indústrias é que estão a conseguir contornar a seca de rendimentos.

“Em relação às empresas independentes, a quebra é muito grande: chega aos 30% e 40%. As grandes organizações têm quebras menores, mas à custa das margens. Todas as semanas agora há ‘black friday’ e, portanto, é menor. É à custa das margens, mas também têm massa crítica que lhes permite aguentar essa quebra das margens”, explica na Manhã da Renascença.

 

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