A Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou, esta terça-feira, um guia técnico de “Vigilância da Saúde dos Trabalhadores Expostos a Fatores de Risco Psicossocial” que tem como objetivo orientar os Serviços de saúde do Trabalho/Saúde Ocupacional na identificação e promoção de boas práticas, a nível da prevenção e promoção da saúde mental dos trabalhadores.

O documento recomenda um conjunto de medidas que podem ser adotadas pelas empresas, como a atribuição de incentivos, por exemplo, através do aumento da hora de almoço, a realização de ações e programas de promoção da saúde sobre diversos temas como técnicas de relaxamento, atividade física regular, posturas no local de trabalho, estratégias para equilíbrio trabalho/família, entre outros.

No âmbito da prevenção, é recomendado aos empregadores que, por exemplo, introduzam interrupções e pausas regulares ao longo da jornada de trabalho, adaptem a carga de trabalho às capacidades individuais do trabalhador e assegurem que os objetivos definidos são justos.

José Rocha Nogueira, o responsável pelo grupo de peritos que elaborou o documento, no âmbito do Programa Nacional de Saúde Ocupacional (PNSOC), declarou à Lusa que esta medida é importante pela “situação da covid-19 e todas as consequências de termos estado em confinamento, com o trabalho isolado e à distância, acabou por ocasionar um certo grau de alteração ao nível das perturbações mentais e veio potenciar este tipo de situação”.

Stress, ansiedade e burnout

As questões de saúde mental em causa mais relatadas pelos trabalhadores são o stress, depressão, ansiedade e burnout. Estes problemas são mais elevados nos trabalhadores em teletrabalho e nos que estiveram sujeitos a situações mais críticas que ocorreram em ambiente laboral, como é o caso de despedimentos em massa.

Este guia é inovador pois “não há uma intervenção sistematizada de como proceder relativamente a esses riscos”, sublinhou Nogueira. Além das medidas apontadas disponibiliza também diversos instrumentos para avaliar os fatores de risco, questionários de avaliação, que estão validados para Portugal e adequados a cada situação específica.

Os problemas de saúde mental dos trabalhadores têm outras consequências associadas ao “enorme fardo de doença e incapacidade que acarretam pesados encargos financeiros para os indivíduos, as empresas e a sociedade”, argumenta.

Psicólogos pedem que não vá para a gaveta

O Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Francisco Miranda Rodrigues, saúda o lançamento do guia da DGS mas questiona se o Governo, Assembleia da República e organizações “vão continuar a arranjar desculpas” para continuar a adiar a promoção da saúde mental nos locais de trabalho.

Em comunicado, Miranda Rodrigues afirma que, o guia “só é útil se não o colocarem na gaveta”. Em cima da mesa não está “um assunto de concertação social, mas sim de saúde pública”, disse. O bastonário apela por isso à alteração da lei para que inclua psicólogos nas equipas de saúde ocupacional, destacando a sua ausência insustentável no Serviço Nacional de Saúde.

Publicado em: https://www.jn.pt/nacional/dgs-quer-empresas-a-promoverem-a-saude-mental-dos-trabalhadores-14169620.html